Reino unido com novo mapa o cenário não poderia ser mais caótico. Desde o início do referendo britânico, conhecido como Brexit, as bolsas despencaram. Esta manhã, a libra esterlina alcançou cotação inferior ao dólar e a menor baixa desde 1986. O mundo esteve atônito até a última contagem de votos e, por fim, it is a fact: O Reino Unido caiu fora do bloco europeu. Mas olhando para esse cenário, como isso afetará a vida de simples mortais como nós?
A verdade é que ainda é muito cedo para saber, mas é fato que algumas coisas mudarão. O coração nervoso da União Europeia anda agitado e o panorama de incertezas é latente. Aliás, até o primeiro ministro britânico David Cameron, favorável à permanência, anunciou a sua renúncia logo após o resultado do referendo que, por 51,9% a 48,1%, demonstrou a vontade da opinião pública de ver o Reino Unido fora da UE.
Mas vamos entender esse processo por partes!
O que significa a saída do Reino Unido do bloco?
A União Europeia foi criada logo após a Segunda Guerra Mundial, em um momento que a cooperação era e foi fundamental para reerguer a dilacerada Europa, além de evitar que outras guerras ocorressem entre os países do continente. Ao longo dos anos, o acordo político e econômico foi se fortalecendo e agregando mais países. A Inglaterra relutou bastante até aderir ao bloco e só em 1973 passou a integrar o grupo de 28 países do bloco.
O maior impacto da saída do Reino Unido, parte do princípio que a partir de agora – ou melhor, de no máximo dois anos (tempo gradual para a saída definitiva) – o Reino Unido ficará isento de cumprir acordos com outros países do bloco europeu, assim como da obrigatoriedade de cumprir as taxas e regulamentações impostas, além de voltar a ter liberdade de negociar, comprar ou vender de quem quer que seja, esteja o país presente no bloco europeu ou não. Porém, esse processo só ocorrerá com muita negociação nesses próximos meses. E pelo andar da carruagem não será um divórcio amigável.
A insegurança do bloco não é de hoje
A verdade é que a crise econômica, iniciada em 2009, começou a estremecer a estabilidade da União Europeia, já que, por conta dos acordos, os demais países, sobretudo os mais fortalecidos, como França e Alemanha, tiveram que se envolver diretamente com o colapso de países membros, a exemplo da Grécia. No ápice da crise, países como Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha acabaram recebendo a nomenclatura nada simpática de “PIIGS” no cenário econômico, como uma associação a “porcos”, ou seja, a “banda podre” ou mais enfraquecida do bloco.
Entre trancos e barrancos, a crise pouco a pouco tem sido superada, porém não de forma linear, já que alguns países não possuem força política nem econômica, e muito menos fizeram as reformas cabíveis, sugeridas quando da criação do bloco. Na realidade existe um grande desiquilíbrio e o Reino Unido cansou dessa brincadeira. Esse, inclusive, é um dos principais argumentos da sua saída, já que segundo dados oficiais, o Reino Unido contribui muito mais do que recebe em retorno por ser membro do bloco.
Outro fator que também tem aumentado a discussão sobre as vantagens reais da permanência no Bloco Europeu é a crise migratória. Assim como as obrigações com os demais membros do bloco, a da abertura de fronteiras é uma delas, já que 26 membros assinaram o Tratado de Schengen, permitindo, assim, a livre circulação entre esses países.
A crise migratória e todo o fluxo de refugiados observado nos últimos tempos provocou muito desconforto, já que demonstrou a falta de controle nas fronteiras, sobretudo dos países ao sul do continente. Com um panorama de instabilidade, uma crise migratória sem solução e a falta de consenso entre membros da UE para solucionar o problema, o Reino Unido que já adota uma postura fechada com relação ao fluxo de imigrantes em suas fronteiras, demonstrou ainda mais insastifação.
Por outro lado, pesquisas de opinião já indicavam uma possível desintegração do bloco. Não é de hoje que países como Grécia, França, Espanha, Itália e Suécia mostram índices altos de rejeição popular às políticas orquestradas em Bruxelas, sede da União Europeia. Aliás, desde que o referendo foi anunciado, os líderes europeus passaram a centrar seus olhares para o Reino Unido, já que a saída do bloco poderia aumentar ainda mais a sensação de instabilidade política e econômica e desencadear um efeito dominó, fazendo com que outros países, também insatisfeitos, decidam abandonar o barco.
Como a saída do Reino Unido nos afetará?
Bom, diretamente ou indiretamente a saída do Reino Unido afetará em algum momento todos os países e as relações estabelecidas com eles. No geral, as consequências políticas e econômicas virão pouco a pouco. No caso do Brasil e outros países não europeus, por exemplo, o resultado pode até ser positivo, já que o Reino Unido não terá que acatar a restrição de vender e comprar prioritariamente de países da UE. Tendo mais liberdade, países como o Brasil poderão voltar a negociar produtos que antes não podiam, por não serem membros do bloco europeu.
Como estudantes, viajantes e intercambistas, novamente, não se prevê grandes mudanças, uma vez que, do ponto de vista da moeda, o Euro já não era adotado pelos países ingleses, assim como o Reino Unido também não havia acatado ao Tratado de Schengen. O acesso ao país se dá por meio de restrições próprias. Sendo assim, pouca coisa deve mudar diretamente.
Enquanto, a partir de agora, existe uma grande preocupação com outros países membros da UE sobre o acesso às fronteiras britânicas, assim como outras regalias educacionais, para países não europeus, como é o caso do Brasil, o Reino Unido já vinha estreitando cada vez mais a regulamentação para para acesso às suas instituições de ensino, assim como ao mercado de trabalho.
Porém, indiretamente a saída irá afetar a todos de uma forma ou de outra. Primeiro, pelas incertezas geradas com o resultado do referendo e, segundo, pelo fato de que, entre os próprios países que compõem o Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales), a saída não foi uma unanimidade – o que já tem gerado tensões mesmo dentro do Reino Unido. Escócia e Irlanda do Norte, que demonstravam favoritismo pela permanecer na UE, já cogitam seus próprios referendos para abandonar o Reino Unido.
Moeda em queda. Se você estava planejando viagens para o Reino Unido e mesmo para a Irlanda, a hora de comprar a moeda é agora, pois com o resultado do referendo a Libra despencou, claro ela poderá se recuperar pouco a pouco, mas é a oportunidade de ouro para quem vai desembarcar por aqui nos próximos meses. O Euro também acabou sofrendo queda, mas segundo especialistas será uma queda pontual.
E como ficam as relações entre Irlanda e Reino Unido?
Já no que tange as relações entre Reino Unido e Irlanda, é necessário manter os olhos abertos, uma vez que os países possuem acordos além da União Europeia. Ainda não se sabe se esses acordos permanecerão ou não, a exemplo da livre circulação entre os dois países, que atualmente isenta passageiros da necessidade de passar pela imigração. Mas isso só o tempo dirá.
A Irlanda assumirá um lugar de destaque no bloco, já que com a saída do Reino Unido, passa a ser o único país em que a língua inglesa é oficial, importante para questões associadas a investimentos internacionais, especialmente com países como os Estados Unidos e isso soma pontos extras. Além do mais, a Irlanda também será o único canal de acesso à UE desde o Reino Unido. Durante a campanha do referendo, o governo irlandês se posicionou a favor da permanência do Reino Unido na UE, alegando que isso seria bom para a Europa, para o próprio Reino Unido e para a Irlanda. E que, caso o resultado fosse o contrário, certamente seria necessário estudar a necessidade de voltar o controle em suas fronteiras.
Links importantes
Para entender melhor as consequências diretas no Reino Unido, recomendamos a leitura da reportagem publicada pela BBC.